By Layse Menezes
No dia da mulher, conheça a história de duas mulheres atuantes em suas áreas e utilizam da deficiência como exemplo para que todos nós tenhamos coragem de recomeçar e sair da inércia que talvez o estado do deficiente possa trazer, principalmente para aquelas mulheres que adquiriram ao longo da vida uma deficiência e pensaram como seria sua trajetória dali para a frente. E hoje a gente traz a história de Cleomar e Vera Lúcia.
Enxergando com os olhos da alma
Vera Lúcia Sábio, 44 anos, cega, é mais do que o sobrenome pode proporcionar. Ela é exemplo de que um lar pode ser inclusivo começando entre o relacionamento marido - mulher. Ela é casada com um acumputurista que também é cego.
Ela nasceu no interior do Paraná com um problema genético chamado Retinose pigmentar - que vai impedindo a passagem de luz através da retina e a pessoa fica sem ver ao longo do tempo e com 15 anos ela perdeu a visão que já era precária."Eu sempre sentava na carteira da frente na escola e tinha dificuldade para enxergar, principalmente à noite e aos 15 anos piorou muito".
Quando ela chegou a RR, isso há uns 22 anos atrás, ela, ainda, conseguia ver alguns pontos lineares. Ela tem um filho, que hoje tem 19 anos. Vera acredita que o pouco de visão que lhe restou desapareceu durante a gestação. Mas nada disso tirou o foco de mantê-la a frente de seus projetos.
A VIRADA NA VIDA
Hoje ela é concursada. A única cega no âmbito jurídico do Estado de Roraima. Parece Ironia. Uma cega trabalhando pela justiça, cuja representatividade é uma mulher com uma venda nos olhos. Olhando por esse lado Vera Lúcia enxerga o mundo de maneira muito imparcial como realmente deve ser a justiça. Sempre muito atuante quando tem que lutar pelo direito das pessoas com deficiência e muitas vezes, até pela sua facilidade verbal é sempre convidada a falar por todos sobre os problemas que enfrentam e até já se candidatou a uma vaga na câmara federal.
Vera sempre quis se aprofundar. O contato com as pessoas sempre foi muito importante para ela. Tanto que o fez cursar Psicologia e fazer pós-graduação na área e junto com o esposo dividem um consultório.
Além disso ela é escritora. Por várias vezes os leitores do jornal Folha de Boa Vista acessam a página de opinião e lá está um artigo dela. Escreveu o livro "Enxergando o sucesso com as mãos", que logo estará a venda e ajudou a fundar a ADVIR (Associação de Deficientes Visuais de Roraima), presidindo pela segunda vez a partir deste ano.
O Braille e a Tecnologia
Mulher de fibra, ela confessa que sente dificuldades com a escrita dos cegos. "O BRAILLE, pra quem não nasceu com a deficiência, tem um grau de dificuldade um pouco maior, mas eu já aprendi um pouco mais".
Para compensar, ela tem uma memória muito boa. Tanto é que ela consegue escrever e digitar seus artigos no computador. A tecnologia a ajudou bastante. Tanto é que Sábio também tem um blog, o Enxergando com os dedos. Lá ela conta suas vivências e fala da dificuldade da pessoa cega.
Ela também escolhe suas roupas normalmente, limpar sua casa, cozinhar, manter sua independência. Ela se sente uma mulher completa e independente financeiramente. "Também sempre fui eu quem cuidou do meu filho. Sempre quis questão disso, mas lógico que sempre tive o apoio da minha família que nunca me fez perder esse contato com a sociedade".
A CADEIRA, UM EMPECILHO?
Cleomar Melo, 42 anos, é mãe, esposa, funcionária pública, integrante do COEDE (Conselho Estadual da Pessoa com Deficiência) e Presidente do Sindicato dos servidores do Detran - RR. Ela se viu em uma cadeira de rodas aos 12 anos mas sempre foi uma mulher bem resolvida e com a auto estima lá em cima.
CASAMENTO E SOCIEDADE
"Eu sempre tive a cadeira de rodas como um trampolim para as minhas dificuldades e superando, encarando cada um deles. A cadeira nunca me impediu. Hoje tenho um casamento maravilhoso, mais ou menos 28 anos de união, dois filhos, um com 18 anos e outa com 10 anos, eles também vivem com a imagem da inclusão"
Ela conheceu o esposo quando tinha 15 anos e o conheceu quando já estava na cadeira de rodas. Namoraram por 8 anos até o casamento. Eles sempre foram muito festeiros. Se divertem e Cleomar nunca teve vergonha de sua condição.
"Eu até gosto quando me olham. Porque estou passando para elas que uma mulher cadeirante pode sim ter uma vida social normal como outra qualquer. Ela pode se divertir, amar, namorar, basta ela querer."
Cleo é concursada e conquistou seu espaço entre os colegas. E fazendo parte de órgãos de referencias como sindicato e conselho torna o currículo dela interessante e a faz uma pessoa mais articulada.
MULHER DEFICIENTE É...
... militar por um espaço mais acessível. Foi a conclusão que tiramos ao destacar a perseverança das duas entrevistadas de hoje. Vera Sábio, por ser cega, acredita que muitas vezes é desnecessário andar nas ruas de Boa Vista - RR porque a cidade está deficiente para o cidadão.
"A mulher cega, por exemplo, ela precisa ter um braço a mais (brinca), porque um braço serve para segurar a bengala e só sobra um braço para carregar o filho, a bolsa, pra conseguir o apoio de alguém, atender ao celular. Quem anda sozinha, como eu acaba perdendo um pouco e só tem uma mão para fazer tudo".
Alguns acreditam que a mulher deficiente é frágil e que ainda está a margem da sociedade mas Vera e Cleomar são exemplos contrários e que podem te incentivar:
"Ser mulher nas nossas condições é muito importante e temos que lutar pelo nosso espaço, pelo nosso conforto, acessibilidade, sempre fui militante dessa luta", afirma Cleomar.
Fonte: http://www.levantajones.com/2018/03/a-deficiencia-nao-e-empecilho-para.html