Para Cátia Marley Queiroz, a 3ª edição do projeto “Meu Pai Tem Nome” foi um momento de realização e gratidão. Cátia, mãe de criação de Anne Gabrielle Queiroz de 38 anos, começou a cuidar da filha desde os 9 meses de vida, a pedido de sua irmã, mãe biológica de Anne. Nove anos depois, Cátia revelou a Anne que não era sua mãe biológica, mas esse fato não afetou o vínculo ou o amor entre elas.
“Ela é minha tia, mas me criou desde pequenininha, e o amor era igual ao de todos os meus irmãos. Foi assim que descobri que não era filha biológica, mas sempre me senti incluída como filha de coração e nada mudou,” contou Anne Gabrielle Queiroz.
Cátia comentou que poder registrar oficialmente a filha de criação, mesmo que 38 anos depois, é um momento de felicidade.
“O sentimento é muito bom. É uma felicidade, só gratidão por agora poder dizer: 'Ela não é minha filha biológica, mas para mim, ela sempre foi filha'. Eu sempre disse isso para todo mundo. Agora, oficialmente, tenho quatro filhos,” destacou Cátia Marley Queiroz.
Além de casos como o de Cátia e Anne, o projeto “Meu Pai Tem Nome” atraiu muitos outros participantes em busca de oficializar vínculos, sejam eles biológicos ou socioafetivos.
Um exemplo é Carlos Alberto de Souza Freire, que procurou a ação para realizar um exame de DNA e descobrir se é pai de um menino fruto de um relacionamento anterior.
“Minha ex-esposa recebeu a ligação do projeto ‘Meu Pai Tem Nome’. Estávamos esperando por esse teste de DNA há 9 anos, mas não tínhamos condições de pagar. Aproveitamos essa oportunidade. Hoje, estamos aqui para tirar essa dúvida e registrar o menino caso o resultado seja positivo,” relatou Carlos.
A 3ª edição do projeto, realizado pela Defensoria Pública do Estado, contou com a parceria do Tribunal de Justiça de Roraima (TJRR), que disponibilizou kits de exames de DNA na capital e nas comarcas do interior. O Poder Judiciário, por meio da Vara da Justiça Itinerante (VIJ), atuou na realização de audiências para formalizar e oficializar os vínculos entre pais, mães e seus filhos. Segundo a Defensoria Pública, 336 pessoas foram inscritas em todo o estado.
“A ação é muito importante porque trata das raízes das nossas crianças e adolescentes, o que faz uma grande diferença na vida dessas pessoas. Esse é um projeto pioneiro em Roraima, que foi também difundido pelas Defensorias Públicas. Estamos alcançando um número cada vez maior de jurisdicionados. A ideia é essa: meu pai tem nome e sobrenome,” destacou a juíza titular da Vara da Justiça Itinerante, Graciete Sotto.
A defensora pública Elceni Diogo explicou que o evento foi realizado nas comarcas do interior, nas unidades prisionais de Boa Vista e de Rorainópolis, além de uma etapa online para aqueles com dificuldades de locomoção.
“A ação busca promover o reconhecimento de paternidade, tanto biológico quanto afetivo, e destacar a importância de se ter o nome do pai na certidão de nascimento, bem como o cumprimento dos deveres paternos e do dever de cuidado,” ressaltou a defensora.
A 3ª edição do projeto “Meu Pai Tem Nome” contou com a participação de mais de 360 pessoas, que buscaram não só descobrir a identidade dos pais, mas também registrar aqueles que preenchem a vida de seus filhos adotivos com amor e afeto. A ação é uma iniciativa desenvolvida pelo Conselho Nacional de Defensoras e Defensores Públicos Gerais (Condege), com a participação das Defensorias dos Estados e do Distrito Federal.
Texto: Mairon Compagnon, Jornalista
Fotos: Giovanni Reis
Agosto/2024